O nosso Agrupamento esteve presente nesta Peregrinação com 59 elementos, distribuidos da seguinte forma: 22 Lobitos, 15 Exploradores, 12 Pioneiros, 1 Caminheiro, 2 CIL's e 7 Dirigentes, sendo uma das maiores representações da Região de Setúbal participando nos dois dias da Peregrinação. As regiões mais representadas foram as de Braga (berço do Corpo Nacional de Escutas) e do Porto.
Algumas curiosidades:
- Esta foi a primeira peregrinação nacional do CNE a Fátima;
- Estiveram inscritos mais de 15 mil escuteiros e 200 elementos do Staff;
- A Região de Braga foi o maior contingente presente;
- Na cerimónia que deu abertura às Comemorações do Centenário e aquela que foi simultaneamente o encerramento da Peregrinação, estiveram presentes mais de 20 mil escuteiros (!);
- Esta foi a maior concentração de escuteiros de sempre, a nível nacional.
Homilia
Em 1907, o inglês Baden-Powell fundava o Escutismo. Celebrar cem anos da sua existência é motivo de festa e daí a razão do colorido e juventude especiais que cobrem hoje este Santuário Mariano, onde viemos em grande Peregrinação Nacional do Corpo Nacional de Escutas (CNE) – Escutismo Católico Português. Queremos dar início às comemorações do centenário, com este sinal de profunda comunhão de Igreja, dando graças a Deus por esta longa caminhada do Escutismo ao serviço da educação de milhões de jovens. A pequena semente lançada em 1907 cresceu de tal forma que se estendeu pelo mundo inteiro, com muitos ramos e muitos frutos.
Também o CNE – Escutismo Católico Português, prestes a celebrar os seus 83 anos (27 de Maio de 1923), quer dar graças a Deus neste dia pela sua existência, serviço prestado e benefícios recebidos. O CNE conta actualmente, em Portugal com mais de 70.000 escuteiros efectivos; mas são muitos milhares ainda aqueles que, na sua juventude, foram escuteiros do CNE e nas demais associações escutistas e guidista, assim como os seus familiares que bem podem ser considerados membros desta grande família.
Sentimo-nos solidários e em festa, peregrinos neste IV Domingo da Quaresma (Ano B), também chamado Domingo “Laetare” ou Domingo da Alegria, porque a Igreja nos convida a dar sentido à penitência quaresmal, saboreando antecipadamente a alegria da Páscoa do Senhor. A Luz de Cristo Ressuscitado torna-se mais próxima, mais brilhante, e permite-nos caminhar com mais segurança, com mais energia, com mais confiança.
Peregrinos de Fátima, peregrinos no Mundo
Na primeira leitura, do Segundo Livro das Crónicas, ouvimos dizer que o Povo de Deus, após a longa e dolorosa experiência do exílio, em Babilónia, por causa da sua infidelidade, é agora convidado a regressar à sua pátria, para reconstruir o Templo, em Jerusalém: “Quem de entre vós fizer parte do seu povo ponha-se a caminho e Deus esteja com ele”.
Foi esta experiência de se por a caminho que nos trouxe a todos até este Santuário, uns de mais longe, outros de mais perto. Por trilhos diferentes, seguimos as “pistas” que nos trouxeram até Fátima, onde, há quase 90 anos, algo de muito especial aconteceu: as aparições de Nossa Senhora aos Pastorinhos; aqui, onde também hoje continua a acontecer algo de muito especial: vivemos e partilhamos uns com os outros a nossa fé, a nossa oração, o nosso compromisso de seguir Cristo; aqui, onde vós, caros membros do CNE, quereis afirmar a vossa condição de Escuteiros Católicos!
Viemos aqui não por mero acaso ou conveniência de espaço; é que o Corpo Nacional de Escutas tem uma especial ligação a Fátima: nasceu em Maio, mês das aparições, e logo desde o seu início foi confiado à protecção de Maria.
Peregrinos de Fátima, chamados a ser peregrinos no Mundo! O caminho, o caminhar, a caminhada, fazem parte da vida do cristão, da vida do Escuteiro. Caminhar na fé, caminhar no amor fraterno. Caminhar construindo Homem Novo, o novo templo que é Cristo e Cristo em nós; contribuindo para a edificação do Seu Corpo que é Igreja, da qual somos membros, da qual fazemos parte como pedras vivas. Caminhar construindo o “templo do nosso movimento”, o CNE, fazendo do Escutismo Católico um “lugar” de encontro com Deus, uma comunidade viva, uma verdadeira “escola de comunhão”.
Somos obra das mãos de Deus
Ouvimos na segunda leitura, da Carta de S. Paulo aos Efésios (2, 4-10), que “somos obra de Deus, criados em Jesus Cristo, em vista das boas obras que Deus de antemão preparou, como caminho que devemos seguir”.
Queridas Irmãs e Irmãos: “Somos obra das mãos de Deus”! E perante a situação de tantos que se deixam arrastar pelos caminhos do mal, provocando a sua própria ruína e infelicidade, S. Paulo diz-nos que Deus, rico de amor e de misericórdia, liberta o homem dessa situação, concedendo-lhe a graça de ressuscitar com Cristo para uma vida nova!
João Paulo II dizia que “Cristo revela ao Homem o próprio Homem”. É Ele, afinal, o Homem Novo que Se torna referência, ideal, “caminho que devemos seguir”!
Há que partir à descoberta do “tesouro”, da “pedra preciosa” pela qual vale a pena dar tudo! Ajudar os jovens, de modo especial, a descobrir um ideal de vida e a comprometer-se nele! Proporcionar-lhes uma caminhada ao encontro do Mestre. É que a identidade cristã está no encontro com Cristo e no seguimento de Cristo, tomando-O como “Caminho, Verdade e Vida”, tal como Ele próprio Se apresentou.
Esta é a grande proposta que a Igreja pode fazer aos jovens, tocando o essencial das suas vidas e ajudando-os no seu crescimento, em ordem à maturidade humana e cristã. É esta, sem dúvida, a proposta que o CNE – Escutismo Católico Português procura fazer, apontando para a formação integral de todos os seus membros; colocando o Homem Novo, que é Cristo, no centro do Projecto Educativo, da Mística e do percurso da formação escutista.
Como escrevem os nossos Bispos, “o Escutismo Católico encontra em Jesus Cristo uma referência concreta e um alicerce transcendente para o caminho que propõe”. E concluem: “Procurem, pois, os assistentes e dirigentes do CNE ajudar todos os Escutas no conhecimento mais profundo e na adesão mais convicta ao mistério de Jesus Cristo, proporcionando-lhes oportunidades para ouvir a Palavra de Deus, para a oração e para a celebração dos Sacramentos, sobretudo da Eucaristia. Sem este alicerce espiritual o Escutismo ficaria debilitado” (CEP, Exortação Pastoral sobre O Escutismo, escola de educação humana e cristã, 12/1995, 5).
Olhar para Jesus no Seu maior gesto de amor
Olhar para Jesus, elevado da terra, e acolher a luz que d’Ele nos vem, é o convite que nos faz o texto do Evangelho, há pouco proclamado. Escreve S. João: “Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do Homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna (...) A Luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a Luz”. Olhar para Jesus na cruz é contemplar o Seu maior gesto de amor. Assim Ele nos ensina que o único modo de realizar plenamente a própria vida é doá-la por amor. Fazer da vida uma dádiva de amor, colocá-la ao serviço dos irmãos, é afinal a grande mensagem, que do alto da cruz Jesus dirige a todos os homens; é o ideal, a Luz que d’Ele irradia. Salva-se quem tiver a coragem de doar a própria vida como Cristo fez! Em linguagem escutista, eu direi: estai “SEMPRE ALERTA PARA SERVIR”! Procurai tomar a sério e viver este vosso lema e sereis cristãos felizes! Concretizando-o numa vida de fé que se exprime na prática das boas obras. Não esqueçais, pois: “O Escuta orgulha-se da sua Fé e por ela orienta toda a sua vida”, “O Escuta pratica diariamente uma boa acção” (3.º Art.º da Lei).
Caminhar com Maria e “... Como Maria”.
O lema desta peregrinação é “... Como Maria”. Queremos caminhar como Maria , queremos caminhar com Maria, Mãe de Cristo, nossa Mãe; ela é alguém que nos acompanha de um modo especial, aquela a quem saudamos e cantamos “Avé Maria, Mãe dos Escutas”. Viemos a este Santuário para aprendermos a caminhar ao encontro de Jesus “como Maria”, a sermos fiéis aos nossos compromissos “como Maria”, a olharmos Jesus “como Maria”: com confiança e disponibilidade, com espírito de entrega e generosidade.
Fixemos, de modo particular, a simplicidade, o compromisso, a fidelidade de Maria! O “Sim” de Maria, na Anunciação, é referência para o “Sim” do nosso Baptismo, como é também referência para o “Sim” da vossa promessa escutista. Não se esqueça cada um do compromisso que um dia assumiu e que será sempre bom recordar.
Interpelações finais
Permiti, por isso, que me dirija, agora a cada um de vós e às vossas secções, de modo mais concreto, em primeiro lugar aos mais pequeninos, aos Lobitos, que “como os Pastorinhos”, descobriram, nestes dias, Fátima e a sua Mensagem de Oração e Paz:
– Queridos Lobitos, lembram-se do dia da vossa promessa, quando receberam esse lenço amarelo? A cada um de vocês foi dito assim: Recebe este lenço da cor do sol dourado, símbolo de Jesus Cristo, nosso Amigo que nos ilumina e ajuda a crescer. Lembra-te sempre d’Ele e sê fiel à boa acção de cada dia.
Agora vós Exploradores, que guiados pela simplicidade da Jacinta, da Lúcia e do
Francisco, ficastes a conhecer melhor a Mãe do Céu, recordai: O vosso lenço verde é símbolo da natureza e da esperança que todos colocam em vós! Estai “Sempre Alerta” e sede fiéis ao vosso compromisso!
E vós, caros Pioneiros: “Como Maria, aceitastes o Desafio de dizer Sim a Cristo, e procurais viver o Compromisso da Fé na Vivência do dia-a-dia”. O vosso lenço azul recorda a imensidão do céu e a profundidade dos mares; ele simboliza a grandeza do ideal “Sempre Mais Longe” no serviço do bem!
Caminheiros: simplicidade, compromisso e fidelidade foram palavras que vos acompanharam na caminhada desde Ourém até este Santuário. Não esqueçais que o vosso lenço vermelho, da cor do fogo e do sangue, será para vós um estímulo ao entusiasmo no Serviço e à coragem no Sacrifício, próprios do Homem Novo Jesus Cristo!
Caríssimos dirigentes, a Igreja deposita em vós muita confiança e conta convosco! O lenço verde-escuro é sinal da decisão de assumirdes o vosso compromisso baptismal, como educadores e evangelizadores no Escutismo Católico Português.
Não posso deixar de me dirigir, também, aos escuteiros marítimos, saudando-os de modo especial e fazendo votos de que o seu número cresça e corresponda cada vez mais à imensidão do mar, que banha uma parte significativa do nosso Portugal.
Nesta peregrinação nacional renovai, pois, a vossa Promessa Escutista e dizei de coração aberto: “SIM” ... Como Maria! A Igreja conta convosco, o mundo precisa de vós: da vossa entrega, da vossa alegria, do vosso compromisso, do vosso testemunho de Escuteiros Católicos!
No final desta celebração, levareis convosco uma imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, para cada uma das vossas dioceses. Maria vai acompanhar-vos neste ano de comemorações do centenário do Escutismo Mundial, para vos ajudar a construir um mundo novo, um CNE renovado, em que brilhem os valores da simplicidade, do compromisso e da fidelidade ... Como Maria! A Ela dirigimos a nossa prece: Santa Maria, Mãe dos Escutas, rogai por nós!
Fátima, 26 de Março de 2006
+ António José Cavaco Carrilho
Presidente da Comissão Episcopal do Laicado e Família
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